“Saliva-me”. A começar pelo nome da turnê, dá pra se ter uma ideia do que Zéu Britto apresenta nos palcos. O ator, cantor e compositor preserva aquele velho humor escrachado, capaz de falar de calcinha e dor de cotovelo de um jeito meio sem noção e muito divertido.
O artista participará do 1° Brega Rock Festival, em Natal, no dia 6 de agosto, ao lado de bandas locais e de um dos seus ídolos: Falcão. Antes disso, ele concedeu entrevista ao Solto, mostrando em sua fala que além de irreverente e performático tem muita poesia dentro de si. E tinha como ser diferente? Ele mesmo considera o brega poético. Veja:
Solto na Cidade: Quem é Soraya?
Zéu Britto: Isso é coisa do passado! Quando fiz a canção tinha 14 anos e sofri uma desilusão amorosa muito grande no colégio. Ela queimou meu filme com todos os coleguinhas. E criança não perdoa. Acabei fazendo a crônica musical do fato e virou minha música mais popular.
Solto na Cidade: Zéu Britto é um personagem?
Zéu Britto: Não deixa de ser. Como minha alma de ator é camaleônica, plural, desbocada e exageradamente feliz, todos acham que eu sou um personagem vivo por aí, mas quem me conhece entende que minha persona é assim o tempo todo. Essa confusão ajuda a consolidar o mistério, a misturar vida e arte, é ótimo!
Solto na Cidade: Quem é José Carlos Britto? Em que situações ele entra em cena?
Zéu Britto: Eu sou realmente dramático. Outra natureza talvez venha quando tenho que gerenciar algo complexo ou defender uma ideia. Jogo duro quando preciso, ainda levo vantagem, pensam que sou esculhambado, do fundão, e na real sou cdf, nerd mesmo.
Solto na Cidade: De onde vem sua veia brega? O que você costuma ouvir e ler?
Zéu Britto: O brega é poético, é simples. O brega é engraçado, sensual e ainda é ritmo musical. Rimou! Sempre escutei Falcão, Reginaldo, Odair, Bartô, Waldicson, Fernando Mendes, Wando. Eles se derramam, o público volta pra casa com a alma lavada. Gosto de ler jornais, revistas, internet, Castro Alves, Anísio Teixeira, Dias Gomes, Clarice Lispector, Jorge Amado… Gosto de ouvir quase tudo: MPB, clássica, rock, jazz, sertanejo, forró, brega, samba, pagode, funk. Se comunica, eu escuto.
Solto na Cidade: O brega era um estilo marginal. Mas esse tipo de música se popularizou, principalmente entre os jovens. O brega virou cool?
Zéu Britto: Tudo que é eterno nas referências gerais é legítimo e tem glamour. O brega é popular porque descreve as questões usando os termos do povo, é lindo, é teatral. Os jovens estão garimpando na internet e a todo momento extraem do passado algo novo, mais um clássico é rearranjado, os remakes de novelas estão aí pra provar isso.
Solto na Cidade: Que trabalho você considera ter sido o maior responsável pelo início do seu sucesso?
Zéu Britto: Foi um período recheado de trabalhos especiais. Começou com “Dama de Ouro”, música do Maciel Melo que cantei na trilha Sonora do filme “Lisbela e o prisioneiro” e rendeu até disco de ouro. Depois o programa “Sexo Frágil”, onde interpretei a música de abertura e era ator. Em seguida, “Soraya Queimada”, que realmente estourou nas rádios e, aos poucos, tudo foi se desenvolvendo, se encaixando e melhorando.
Solto na Cidade: Lázaro Ramos falou em uma entrevista que você compôs músicas que são verdadeiros poemas de amor. Você apresenta esse tipo de trabalho?
Zéu Britto: Meu amigo querido. Ele e Thaís adoram as músicas de amor, claro, eles formam um casal lindo! Canto de vez em quando em shows especiais, mas no próximo cd já vai entrar umas duas assim. O público já pede tem tempo.
Solto na Cidade: Diversos filmes nacionais e programas de TV tiveram músicas suas na trilha sonora. Alguma delas, certamente, foi feita a pedido. É mais fácil compor livremente ou sobre um tema pré-definido?
Zéu Britto: Por incrível que pareça, é mais fácil compor por encomenda. Quando um diretor me diz o que ele quer, eu volto pra casa correndo e faço rápido. Já aconteceu de tudo, quando eu mesmo dirijo a peça ou o programa, toda parte musical sai naturalmente, a cobrança é minha mesmo e tem de ser rápido, pois eu sou agoniado (ha ha ha ha ha), independente da forma, as ideias pulam de minha cabeça. Compor é bom demais.
Solto na Cidade: Várias de suas letras contam histórias non sense. De onde vem tanta inspiração?
Zéu Britto: Vem de Jequié, minha terra natal, interior da Bahia. O povo lá é muito engraçado e sabe contar histórias bem mesmo. Cresci ouvindo coisas curiosas, coisas que despertam imagens. Foi impossível não querer abrir este universo em forma de músicas e enredos. Desde criança fui fã de Wally Salomão, poeta e letrista de clássicos da MPB. Ele é jequieense e uma grande inspiração.
Zéu Britto: Muitos, sempre. Isso é o que me mantém de olhos arregalados! Até o fim do ano vou rodar muito com o show “Saliva-me”, registro visual lançado recentemente em DVD com participação de Ivete Sangalo e Mauricio Baia. Estou escrevendo meu primeiro livro, sairá em breve. Vou também compor uma trilha sonora para o musical “Prisioneiros da Balança”, com estreia prevista para março de 2012. E muitas coisas vão chegando, que venham a mim as demandas da arte, eu estou sempre pronto!
por Isabela Santos
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